Digo isso, porque o nível de cultura/inteligência/educação das pessoas que lá trabalham é extremamente baixo! É claro, isso não se aplica a todas as pessoas, mas conheço boas pessoas lá, o que é extremamente raro. Existem muitas pessoas boas no que fazem lá, não há como negar, mas esta inteligência que se sobressai, se aplica somente no trabalho, mas é só bater um papo de 5 minutos que você acaba notando a real pessoa. Muitos ali são cobras e se preciso, usam o companheiro como degrau para subir de cargo.
De todas as pessoas que conheci por lá, um cara que trabalha na minha área, me chamou muito a atenção devido a suas conversas, sua inteligência e seu jeito espontâneo de fazer amizades. No começo não gostei muito dele, devido a seu jeito hiperativo de ser e por ser uma pessoa EXTREMAMENTE sincera. Meu conceito mudou muito, depois que nos aproximamos e pude notar o quão especial ele é. Pai de família, 2 filhos e 1 esposa linda e muito simpática!
Ele por problemas pessoais, viu em mim a confiança em poder desabafar seus problemas, passávamos horas conversando, íamos todos os sábados de carro até o centro da cidade, beber cerveja na hora da janta da fábrica, nas horas extras. Eu sempre com meu jeito reservado de ser, ouvia sempre a ele, ajudava e o aconselhava da forma que eu julgava ser a melhor e a mais correta.
Sempre achei que ele tinha uma desconfiança em mim, sobre a minha sexualidade devido as nossas conversas e porque ele é um cara muito perspicaz, e sabe notar muito bem quando você está bem ou não, se quer dizer algo ou não, se está sendo sincero ou não.
Semana passada, ele me avisou que iria passar por uma cirurgia no braço direito, onde ele iria retirar 3 dos 21 parafusos que ele tem no braço, pois estavam incomodando e atrapalhando seu rendimento. E quando me disse isso, já me intimou:
"-Eduardo, minha recuperação será rápida, mas este ano, não retornarei ao trabalho. Você logo irá embora e será muito difícil de nos vermos pessoalmente. Como você sempre fala muito sobre as baladas de São Paulo, decidi que vamos você, minha esposa e eu, curtir uma balada por lá, tudo bem? Aliás, isso não é um pedido, é uma intimação!"
Meu Deus! Todas as baladas que fui em SP, são baladas gay, como fugir? Mas devido a insistência dele, tive de aceitar e não pude fugir do compromisso. Aceitei e deixei meio que marcado para a próxima folga após sua cirurgia.
Pensei muito sobre o assunto em todos estes dias, sobre a confiança dele em mim, em tudo o que passei e o que ele passou lá na fábrica, então foi com muita confiança que decidi contar a ele que eu sou gay!
Nesta quarta-feira, fomos jantar no bar da esquina da fábrica, tomar uma cerveja e rir um pouco. Não sabia como entrar no assunto, não sabia como ele iria reagir e o medo e o pavor começou a tomar conta de mim. Ele percebeu meu desconforto e perguntava se eu estava bem, se queria dizer algo, mas eu neguei e puxava outro assunto. Quando estávamos voltando para a fábrica, criei coragem e fiz a seguinte pergunta a ele:
"Cara, por acaso, existe alguma coisa, alguma pergunta que você sempre quis fazer a mim, mas nunca fez ou nunca teve coragem?" Ele parou de andar, me olhou e disse que não, que confiava plenamente em mim e tudo que ele sempre quis perguntar, o fazia sem questionamentos.
Comecei a pescar suas ideias até que ele disse:
"Edu, gosto de você, é um cara único e não conheço ninguém igual a você, é um cara incrível, por suas ideias, inteligência e gostei muito da forma que conseguiu subir de cargo, é um cara que merece muito na vida! Já pensei várias vezes em falar com você sobre, mas depois cheguei a conclusão de que independente da sua resposta, a amizade que temos, o que sinto e penso sobre você não vai mudar me nada! É uma grande pessoa e pronto!" Comecei a rir muito sem graça, e então ele perguntou:
"Edu, você é gay? Te vejo sempre falar que vai nas baladas, que sempre fica com as pessoas e etc. Sinceramente não duvido nada, mas é que tem algo em você que é diferente de tudo o que já conheci. Até conheço algumas pessoas que tem certos atributos assim, mas você é único!" Então, eu olhei pra ele e respondi:
"Sim cara, sou gay! Sempre soube que você sabia ou desconfiava, por isso acabei perguntando!" Acabei rindo meio sem graça. Então ele veio até mim, me deu um abraço bem forte (sempre nos cumprimentamos com um abraço, independente de onde estamos), e disse olhando para mim:
"Cara, de uma coisa você pode ter certeza, nossa amizade nunca vai mudar devido a isso. Para mim, é apenas um detalhe e o que importa são todas as qualidades e até os defeitos que você tem! Já disse, você é especial, um cara de bom caráter! Terei muita sorte se meus filhos tiverem ao menos metade do seu caráter!" Sério, nesta hora me segurei para não chorar!
Voltamos a fábrica conversando um pouco mais, contando sobre minha adolescencia, as perturbações que sempre tive, meus comportamentos, as primeiras vezes que fiquei com um cara e tudo que já fiz depois que me aceitei. Ele me disse que nunca desconfiou devido as minhas atitudes na fábrica ou quanto a minha masculinidade, mas que sentia algo de diferente em mim e que este ano, via que eu estava muito melhor que nos anos anteriores (este ano, foi o ano em que resolvi desencanar da vida e curtir o que ela tem de melhor a me oferecer). Ele acabou ligando para a esposa e contando que iríamos a uma balada gay em SP e ela ficou toda animada!
Tirei um peso das costas! Fiquei emocionado com as palavras de meu amigo e sua reação quanto a minha revelação. Nossa amizade só cresceu e minha admiração quanto a sua pessoa aumentou!
Ele já operou o braço e esta tudo em ordem. Marcamos a balada para o dia 14/11 na The Week.
Grande abraço a todos,
Eduardo Paiva.
Neste Domingo, estarei participando de uma entrevista para o blog Forever Young do Raphael Martins e gostaria de pedir a audiência de vocês por lá!